Todo texto tem minimamente dois níveis de leitura: o nível básico e o nível abstrato. Inferência é o entendimento do significado do texto, segundo o próprio texto.
Você certamente já ouviu muitas pregações ou exposições da Palavra de Deus, mas sabe dos diversos níveis que uma mensagem pode alcançar? Pois bem, é sobre isto que vamos falar nas linhas a seguir.
Em geral qualquer texto tem três níveis: o básico, o intermediário e o abstrato. O primeiro nível de leitura nos mostra uma leitura superficial, horizontal, histórica, concreta, imediatista do texto.
Um exemplo é a passagem em que Jesus estava dormindo no barco enquanto esse passava por uma tempestade.
No primeiro nível podemos pensar que para os discípulos a passagem significa a chuva, o vento, o momento em que estão vivendo ou passando.
Para entender o segundo nível eu entendo primeiro o terceiro nível, o mais abstrato, mais profundo, o significado ultimo.
No terceiro nível do texto sobre a tempestade podemos dizer que o mundo está passando por uma crise enorme e Jesus é a única solução.
O nível básico de pregação e o abstrato
O nível básico de pregação é para mensagens simples, enquanto o nível abstrato deve ser empregado em mensagens mais ricas, com mais detalhes, com abundante uso de metáforas e outras figuras de linguagem.
Mas atenção, acima de tudo a mensagem tem de ter por característica a sua imediata compreensão e aceitação pelos ouvintes.
Podemos então deduzir qual é o segundo nível a partir da concretude do primeiro nível e da abstração do terceiro, que é o intermediário desses dois: como o texto fala comigo? O que é uma aplicação também.
Se estou passando por uma tempestade devo acordar Jesus para resolver o meu problema – pode ser uma interpretação.
Eu não quero me alongar sobre o assunto, pois o teor desse artigo não é a teoria literária, mas sim a pregação evangélica. Observo o quanto se prega num nível puramente primário, na imensa maioria das vezes, no que acabamos dizendo que a pregação não tem profundidade.
Profundidade aqui é um nível mais profundo do texto, um significado não alcançado pela imensa maioria das pessoas.
Já disse muitas e muitas vezes que se é pra pregar exatamente o que estamos lendo, então nem preciso pregar. Leio a Bíblia e pronto.
Quando ouvimos uma pregação desejamos saber quem é Deus e o que Deus requer de nós e o que ele pode fazer por nós. A pregação básica não está alcançando isso.
A exposição intrusiva
A pregação do Novo Testamento é mais intrusiva, mais profunda, mais pessoal do que a pregação do Antigo Testamento. O Novo Testamento é mais interiorizado em seus amplos textos e contextos do que o Antigo Testamento.
Observe a estrutura da Bíblia: parte do Eterno, caminha pela criação do Universo, pela conquista da Terra, pela formação da nação de Israel, passando pela igreja e culminando no individuo, o cristão.
A Bíblia parte do macro e caminha para o micro. Do universo, até chegar ao individuo e ao coração de carne.
O empobrecimento das pregações
Está faltando para os pregadores uma maior e melhor compreensão do texto. A Palavra da igreja está muito básica, imediatista, o que dá a má impressão de que o pregador não está gastando tempo com Deus.
Pregar na horizontal, historicamente, explicar o que podemos concluir lendo a nossa Bíblia, sem pensar muito, é ser primário, básico e desnecessário.
Resumindo o pensamento de muita gente, por mais grosseiro que possa parecer é: Pra que vou para o culto ouvir uma pregação se o pregador interpreta a Bíblia pior do que eu?
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Por isso acredito firmemente que o mesmo pregador não pode pregar em todos os cultos, se ele assim o fizer, não consigo imaginar que ele terá tempo viável com Deus, de assimilar interioridades que vem com o tempo e não de um dia pro outro. Quantidade não quer dizer qualidade.
Paulo Sérgio Lários
Paulo Sérgio é Presbitero, tecnico de informática e escritor |