A voz inconfundível de Jeremias, o ferreiro de Deus lamentava amargamente as tantas oportunidades perdidas pelo povo de Israel. 

O lamento do profeta foi por constatar que o povo não havia aceitado os contínuos chamados para o arrependimento.

Mas imaginemos que Jeremias ignorasse o adesivo bem criativo que contem os seguintes dizeres: “Calma: Deus ainda está trabalhando comigo”!

E quem há de duvidar desta afirmativa, visto que o processo de formação de um novo homem é continuo e doloroso?

Comumente associamos o profeta Jeremias ao oleiro de Deus, isto por conta da passagem que Deus solicita para que Jeremias desça a casa do oleiro e observe o trabalhar deste profissional. Hoje vamos apresentar a Jeremias como o ferreiro de Deus.

O livro de Eclesiástico aponta uma discussão sobre os artífices, sua natureza e mérito, em que Jesus Ben Siraque fala dos que trabalham com as mãos (Eclo 38. 24-34), sem os quais não é possível construir uma comunidade.

Registro de ofícios na Bíblia

A bíblia menciona 25 ofícios diferentes, dentre eles, o ferreiro e o oleiro. Eles podiam ser reconhecidos nas ruas. Os carpinteiros e marceneiros colocavam uma lasca de madeira atrás da orelha. Os tintureiros um pedaço de pano colorido.

Os alfaiates uma grande agulha enfiada na parte de cima da roupa, e assim cada profissional era identificado através de emblemas que lembrava sua profissão. Naquela época já se praticava eficazmente o marketing 🙂

Há tanta coisa a ser abordada no livro de Jeremias que fico espantado com tanta informação e detalhes que uma vez compreendidos por nós, vai enriquecer e muito nosso entendimento acerca da posição do Senhor em relação aos judeus contemporâneos de Jeremias, como também dizendo respeito às gerações seguintes.

Caso fosse fazer um resumo do livro de Jeremias, o faria deste jeito: O povo é lembrado da sua condição antiga, quando era benção nas mãos do Senhor.

É aconselhado a voltar para esta condição, considerar que o Senhor ainda era o mesmo. A respeito dos seguidos apelos para a mudança, o povo a rejeita.

Como persistia no erro, Deus usa a Jeremias para denuncia-lo por seu pecado. Depois o chama ao arrependimento com múltiplas mensagens enviadas pelos profetas antecessores e contemporâneos de Jeremias. O povo continuava irredutível.

Deus envia Jeremias a casa do ferreiro

Imaginemos, que Deus tenha solicitado a Jeremias para ir até a casa do ferreiro, não para encomendar algum serviço, mas somente para observar o trabalho deste profissional.

Lá chegando, Jeremias encontra o ferreiro a malhar um pedaço de ferro na bigorna, as faces enrugadas e avermelhadas pela ação do fogo.

Os ouvidos tinindo com o barulho das repetidas marteladas, as veias saltando dos braços musculosos que vigorosamente golpeia o ferro na bigorna.

Este processo é repetido diversas vezes, numa ação cansativa e enfadonha, mas que por fim dá corpo a um instrumento que seria impossível de imaginar vindo daquele pedaço de ferro informe.

Assim acontece com o ferreiro sentado perto da bigorna, examinando o ferro que vai moldar. O vapor do fogo queima as suas carnes, e ele resiste ao ardor da fornalha.

O barulho do martelo lhe fere o ouvido de golpes repetidos. Seus olhos estão fixos no modelo do objeto. Ele aplica o seu coração em aperfeiçoar a sua obra, e põe um cuidado vigilante em torná-la bela e perfeita. Eclesiástico 38. 28-31

Deus fala no intimo de Jeremias, e ele lança um olhar ao redor e nota que há diversos tipos de ferramentas na oficina do ferreiro. Há ferramentas sem corte, quebradas, ultrapassadas e enferrujadas.

Elas são colocadas num canto, sem uso definido, e suas utilidades são esquecidas. Mais um olhar e Jeremias constata que em outro canto da oficina há ferramentas de uso continuo pelo ferreiro. Elas são afiadas, preparadas e definidas para auxiliar o ferreiro no dia a dia.

O ferreiro de Deus é enviado a falar ao povo

ferreiro

Jeremias sai da oficina e começa a associar fatos do seu ministério ao que havia acabado de presenciar. Lembra que quando Deus o chamou, ele, Jeremias havia apresentado desculpas para não aceitar a incumbência que lhe fora dado.

O profeta argumenta que não pode aceitar a tarefa por que é ainda um “menino”. Deus refuta os argumentos de Jeremias e afiança que lhe dará todo o suporte na execução do seu ministério.

O episódio do oleiro fala do relacionamento deste com o barro e a incrível capacidade de transformação da massa informe em vasos, jarros, panelas e outros utensílios domésticos e decorativos. Para a efetiva transformação o barro tem de estar limpo e moldável.

No processo de acabamento o vaso quebra nas mãos do oleiro, que torna a refaze-lo conforme a sua vontade. Após, Deus manda Jeremias aplicar a lição ao povo, com a recomendação de que permitam o agir de Deus na vida, sujeitando-se a serem moldados conforme a vontade do Senhor.

Ó comunidade de Israel, será que não posso eu agir com vocês como fez o oleiro?’, pergunta o Senhor. ‘Como barro nas mãos do oleiro, assim são vocês nas minhas mãos, ó comunidade de Israel.’ Jr 18. 6

Duas coisas há de ser observadas aqui. Primeiro, a argila é um material mais maleável, primeiramente moldada e em seguida levada ao fogo para o cozimento, depois a pintura. O ferro é um processo inverso, primeiro é levado ao fogo, depois à bigorna onde tem a sua formatação final.

Este processo é mais difícil e demorado. Requer a ação de um especialista. Felizmente, o Senhor é um ótimo oleiro, sendo também um excelente ferreiro.

Israel tinha o coração duro como o ferro

O coração é tido na Bíblia como o centro diretor da atividade humana, daí emana os pensamentos e ações. O coração pode ser considerado como algo que abarca a totalidade do nosso intelecto, emoção e volição. (Mc 7. 20-23).

Quando Deus fala de coração de carne, então o sujeito está numa condição de melhor receber e compreender os ensinamentos de Deus. Ez 11. 19; 36. 26

Não lemos nas Escrituras sobre coração de ferro, mas há sim diversas referências a coração endurecido. E que coisa pode ser mais dura do que o aço?

Deus examina cada pessoa, sonda profundamente os corações, examina a mente afim de compreender cada pessoa de acordo com sua atitude. Jr 17. 10

Vê que no capitulo 17, Deus faz mais uma advertência, mas também recomenda que Jeremias vá a casa do oleiro (18) para que compreendesse qual a era a mensagem que deveria transmitir ao povo.

Deus lembra na ocasião que o pecado de Israel estava escrito com estilete de ferro e gravado com ponta de diamante.

Que material suporta a impressão em ferro ou diamante senão o próprio ferro? A mensagem era simples e contundente, a continuar rejeitando sistematicamente a mensagem do Senhor, o povo estava sujeito a perdição, que no caso era a consequente invasão e destruição de Israel pelas forças de Nabucodonosor.

Considero o capitulo 18 do livro de Jeremias de uma eloquência impar, aqui é o divisor de águas, ou o perdão de Deus e a restauração de uma condição antiga, ou um mal imaginado por Deus vai assaltá-lo.

O povo declina mais uma vez. “Mas eles dizem: Não há esperança, porque andaremos segundo as nossas imaginações; e cada um fará segundo o propósito do seu mau coração.” Jr 18. 12

Jeremias na condição de ferreiro

Note que no versículo doze a palavra empregada por Deus é “forjar”, lembrando a ação do ferreiro na bigorna, que forja do ferro bruto um instrumento ou objeto.

Vamos relembrar a fala de Jeremias “Passou a sega, findou o verão e não estamos salvos”. Meu Deus, que lição assustadora! O barro não aceitou ser moldado.

A botija foi quebrada justamente no Vale do Filho de Hinom. A mensagem como todas as anteriores era clara e cristalina. 

O Vale do Filho de Hinom foi teatro de culto idolatra assim como os contemporâneos de Jeremias também procediam com sacrifícios de crianças, conforme os ritos do deus Moloque (1 Rs 11. 7; 2 Cr 8. 23 e refs).

O local ficou tão degradado, que posteriormente era usado para receber todo o refugo da cidade. Este lugar era tomado como símbolo do lugar reservado aos maus. Mt 5. 22,29,30; 18. 8,9 e refs.

O povo se revoltou inteiramente contra o profeta e procurava mata-lo, fazia conselhos contra ele. Jeremias prosseguia, agora não mais como oleiro, que tentava moldar com as palavras, mas na condição de ferreiro, que espanca impiedosa e cuidadosamente o ferro na esperança de forjar um instrumento.

Muitas vezes Jeremias, o ferreiro de Deus transitando pelas ruas de Jerusalém teve os tímpanos zunindo com os insultos dirigidos a Deus na sua pessoa.

Sua face se enrubescia a cada indignidade cometida por quem deveria zelar pela conduta e moralidade do povo. Com as lições aprendidas na oficina do ferreiro, Jeremias sabia que se o povo na condição de barro não aceitou ser moldado, tampouco na condição de ferro iria se sujeitar a ser transformado por Deus.

Na pilha de ferramentas sem corte

O exercito babilônio invadiu Jerusalém provocando inúmeras mortes e imensa destruição. Apenas uns poucos moradores foram deixados na terra desolada. Os demais viventes fugiram ou foram deportados para terras estrangeiras.

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Era o final do verão, a época da colheita havia passado e o povo restante continuava faminto e sem salvação. 

O fim foi um só, ser jogado na pilha de ferramentas sem corte, quebradas, ultrapassadas e enferrujadas. É o abandono, é o fim! Deus se cansou!

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Categories: O Rico e Lázaro

Juraci Rocha

Juraci Rocha é o editor do site Filhos de Ezequiel. Os escritos de Juraci Rocha são informativos, envolventes, divertidos e desafiadores. É instrutivo ler seus estudos e conhecer seus pontos de vista práticos e profundos sobre o tecido da fé cristã.

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