Hoje vamos falar de Balaão, um profeta ganancioso que foi contratado pelo rei Balaque para amaldiçoar a Israel.

Antes de prosseguirmos apresentando a história deste vidente alma sebosa, vamos fazer algumas considerações. 

Na Bíblia quando falamos em exemplos de virtude, longanimidade, bondade e generosidade, frequentemente lembramo-nos de Davi, Abraão, Jó, Joquebede e outros heróis que figuram na galeria dos heróis da fé em Hebreus 11.

Mas, e se te fosse solicitado que apontasse alguém ímpio e ganancioso? Bem, a tarefa é igualmente fácil.

O apostolo Judas discorre sobre a vida de três homens que tiveram destaque negativo e destrutivo na descrição bíblica; são eles: Caim, Balaão e Corá.

Já lançamos um olhar sobre Corá e sua rebelião. Nosso estudo de hoje é sobre Balaão, o devorador, em outra ocasião falaremos de Caim.

Para definir impiedade poderíamos lançar mão de qualquer dicionário, mas o apostolo Paulo escrevendo a Timóteo deu uma definição muito precisa de homens ímpios (2 Tm 3. 2-5).

Parece que a ganância anda associada à impiedade, pelo menos é o que entendemos da leitura de Paulo, então não há necessidade de darmos outra definição para a ganância senão a que acabamos de ler.

O homem ímpio tem uma evolução natural que por fim o leva a queda definitiva. Vejamos os passos segundo Judas 1. 11.

03 passos para a desgraça de um homem

Entraram pelo caminho de Caim. Abel e Caim fizeram ofertas para o Senhor. A oferta de Abel foi aceita, a de Caim recusada. Caim ficou extremamente irritado e se interpôs com Deus, que lhe disse que a razão da recusa era sua conduta que não era aprovada.

O Altíssimo o lembra que caso ele mudasse de sentimentos e fosse pelo caminho da retidão, sua oferta seria aceita. Houve uma evolução, primeiro o conflito com Abel, o ódio acumulando com a recusa da oferta, o ressentimento contra o irmão e por fim o assassinato.

Caim tinha uma escolha, um caminho a percorrer, que logicamente seria limpar o coração de todo mal, se reconciliar com o irmão. Mas preferiu seguir o caminho de seu coração enganado.

Foram levados pelo engano do prêmio de Balaão.  O filho de Beor foi personagem poderoso, homem de grande inteligência e era residente na Mesopotâmia.

No texto sagrado compreende-se que ele tinha algum conhecimento de Deus, mas prestava-se a jogar feitiços e encantamentos, razão por que Balaque, o devastador, rei de Moabe o mandara chamar para amaldiçoar os hebreus que saindo do Egito lambia a toda a terra, conquistando a todos os povos.

E pereceram na contradição de Coré. Uauuuu! Você viu que coisa? O homem ilustra seu próprio destino quando deixa de seguir os caminhos do Senhor.

Note que estamos falando aqui de homens que tinham contato com Deus, que sabiam dos seus desígnios, que conheciam a sua vontade.

Mas todos eles, a cada passo que dava selavam o seu destino. Eles tinham um caminho claro a seguir, mas optaram por construir sua própria estrada.

Deus havia lhes reservado um galardão (Pv 11. 18; Fp 3. 14), mas eles preferiram o prêmio da injustiça e pereceram na contradição de Corá.

Balaão, o devorador

balaão
Balaão e o anjo, numa pintura de Gustav Jäger, de 1836

A significação do nome é desconhecida, mas acredita-se que seja “devorador”. Esta é outra das características dos ímpios e gananciosos, eles são devoradores. Devoradores da ética e devoradores dos bons princípios, devoradores da razoabilidade.

Jesus trouxe duas advertências contra os falsos profetas, em ambas as ocasiões comparou-os a “devoradores”. (Mt 7. 15 e Mc 12. 40). Igualmente, anunciando o crime dos profetas e lideres de Israel, o profeta Isaias, comparou-os a cães devoradores. Is 56. 11

Balaque solicita ajuda a Balaão

Israel vinha de uma campanha vitoriosa, havia conquistado a maior parte do território a leste do Jordão, agora estava acampado nas campinas de Moabe. Balaque, rei dos mobaitas ficou muito apreensivo com a situação, pois Israel era como “um boi que lambe toda a erva do campo”.

Angustiado pelo iminente perigo, Balaque busca uma alternativa para afastar o perigo, busca uma solução espiritual, visto que julgava sair em campo aberto contra Israel.

Alguém recomenda que ele busque os serviços de Balaão, homem de muito prestigio e sabedoria, que de pronto apresentaria uma solução.

O filho de Beor era um Iluminado de Deus, mas com a chegada da embaixada ele pensou que poderia negociar com Balaque e Deus ao mesmo tempo. É o típico cara que quer jogar nos dois times.

Terminantemente Deus já havia dito que “o povo é abençoado”. A vontade do Altíssimo em relação a Israel estava manifestada (Num. 24:10).

Era o suficiente para o adivinho compreender a vontade de Deus e despachar a embaixada. Propositalmente, ocultou esta informação da embaixada, e ainda acusou a Deus de arbitrário.

A insistência de Balaão em usufruir das riquezas que Balaque lhe oferecia, deixava claro que o profeta amava o prêmio da injustiça.

A ganância levou o vate a procurar dar um “jeitinho”, por isto que ele mesmo sabendo que sua atitude contrariava a vontade de Deus, resolve ir com os príncipes de Moabe.

Balaão atende o pedido de Balaque

Balaque sabia da grandeza e respeito que os povos tinham pelo filho de Beor. Igualmente considerava os feitos de Moisés no Egito e depois no deserto.

Então lhe ocorreu que para enfrentar a Moisés, Balaão estava à altura. Uma coisa devemos destacar aqui: Deus tem os seus homens, o Diabo também tem os seus. Ainda no Egito, houve um embate entre Deus (Moisés) e Satanás (Janes e Jambres).

Em muitos aspectos, Balaão era superior a Moisés. O vaticinador tinha fama internacional (Nm 22. 6), Moisés mal era reconhecido entre os hebreus, surgindo muitas divisões e revoltas por causa disto. Balaão reconheceu a Deus desde o principio, Moisés ao contrário teve uma revelação de Deus na sarça ardente.

Balaão sabia quando Deus vinha a ele e reconhecia a sua presença, ao contrário de Moisés que se mostrava perplexo com a voz do Deus de Abraão.

A diferença entre ambos é que Moisés era um profeta consagrado inteiramente a Deus, ao passo que o vidente era mercenário. Dt 34. 10; Êx 12. 6,8; Dt 18. 15,18

A imagem de Balaão mais marcante é justamente o episódio do dialogo com a jumenta. As riquezas oferecidas por Balaque obscureciam-lhe a visão, o deixava alheio ao físico e sobrenatural.

Havia um terceiro elemento na cena, o anjo invisível e mortal. Contudo, ele ignorava o opositor em seu caminho. A jumenta desesperadamente tentava se esquivar do anjo.

Como um animal irracional e considerado de pouca inteligência pode articular um dialogo e mostrar ao vaticinador que ele estava errado?

A resposta está na condição do coração de Balaão, que mesmo sabendo da vontade de Deus de abençoar, intimamente buscava uma forma de lançar um feitiço ou encontrar um meio de atender a Balaque e receber os prêmios oferecidos pelos encantamentos. Nm 22. 20

03 cenas bem distintas do diálogo de Balaão

Temos neste quadro três cenas bem distintas. A primeira cena (Nm 22. 22-27) se desenvolve gradativamente. Por três vezes o anjo aparece, a cada vez em um lugar diferente, e todas as vezes a jumenta vê o anjo.

Cada resposta do animal é mais extrema, deixando Balaão cada vez mais furioso.

Vistos de fora, esses eventos aparentemente revelam a supremacia do ser humano sobre o animal irracional. Balaão, porém ignora a verdadeira razão do animal agir assim nesta ocasião.

Ele ficou furioso. Mas Deus também estava furioso com a teimosia do agoureiro (22. 27). A ira do Senhor, no entanto, é justificada, enquanto a do enfeitiçador não é.

A segunda cena (28-30), descreve um dialogo irônico entre a jumenta e seu dono. A jumenta não compreendia a razão de tanta fúria de Balaão.

A pergunta ingênua da jumenta “Que foi que eu lhe fiz, para você bater em mim três vezes?” O dialogo é de uma eloquência impar. O anjo do Senhor falava na boca da jumenta. O homem racional separado de Deus se torna uma besta espiritual.

O homem divorciado da vontade de Deus comete todas as loucuras imagináveis. Balaão está prestes a receber a mais preciosa lição de vida. Dentro de instantes ele vai compreender que não pode lutar contra a vontade de Deus. Em segundos ele vai perceber a sua loucura.

A terceira cena (31-34). Balaão responde que caso tivesse uma espada, teria matado a jumenta. O adivinho não tem uma espada, mas o anjo tem, e só não matou ao insensível agoureiro porque a jumenta havia se desviado do anjo mortífero.

Irado, ele ameaça a jumenta com uma arma que não tem, enquanto o anjo quer cumprir sua missão com uma arma que tem.

Balaão viola a vontade de Deus

Contradição! Balaão estava decidido a violar a vontade de Deus de olho nas riquezas de Balaque. Com sua atitude mesquinha e mercenária ele ia matar toda uma nação pelas palavras de sua boca.

O vidente não sendo homem de guerra, obviamente não levava consigo espada ou qualquer arma de combate, mas para matar a jumenta ele queria ter uma espada.

A jumenta não sabia que só ela havia visto o anjo, por isto não entende a reação de Balaão e pergunta-lhe: “Não sou sua jumenta, que você sempre montou até o dia de hoje? Tenho eu o costume de fazer isso com você?”. 

Com sua resposta monossílaba, ele sente-se envergonhado e confuso.

O grande bruxo é efetivamente cego fisicamente, enquanto os animais não têm articulação vocal entendível para os homens, sendo, portanto considerados mudos no quesito de comunicação com humanos.

A história mostra a loucura de um ego autodestrutivo preocupado com seus próprios interesses. Foi necessário que o anjo abrisse seus olhos e mostrasse as loucuras que ele estava prestes a fazer.

A terceira cena se inicia com um dialogo entre o anjo e Balaão. A pergunta do anjo ao pressagiador é cínica e humilhante. O anjo adversário afirma que teria matado ao bruxo e poupado ao animal.

O emissário de Deus defende a atitude do animal e refaz a pergunta da jumenta a Balaão feita instantes atrás “Por que você bateu três vezes em sua jumenta?”

A dupla repetição enfatiza que a jumenta foi plenamente justificada em sua denuncia contra o bruxo. Humilhado, restou ao adivinho reconhecer seu erro. 22. 34

Que loucura! A história revela uma loucura autodestrutiva de um homem preocupado em cumprir seus interesses imediatos em vez de discernir a vontade de Deus.

Deus humilha os soberbos

Resumo das três cenas. O todo poderoso Balaão, internacionalmente conhecido é humilhado em detrimento de um animal irracional e colocado numa posição inferior em termos de revelação. Três revelações para a jumenta e uma para o profeta.

Aqueles que atentam contra o Senhor andam em círculos viciosos, sem rumo, sem paz, bem próximos da desgraça (Ef 2. 12,13). Foi assim que Balaão percebeu que se encontrava no mesmo lugar.

O episódio em questão serviu para ridicularizar-lo. Não nos esqueçamos que ele estava acompanhado de serviçais (22. 22). 

Ele fora procurado por ter contato com o sobrenatural, mas a sua jumenta superou-o em suas habilidades.

A revelação de Deus não depende da vontade do homem, nem de circunstância, nem de instrumento de veiculação. Ela simplesmente acontece por força da sua vontade. 22. 28; 31

Palavras de bênçãos de Balaão

Agora Balaão sabe que não pode amaldiçoar a quem Deus abençoa. Então ele não foi à busca de feitiços como anteriormente, mas voltou o rosto para o deserto. Olhando para cima viu a Israel acampado com todas as suas tribos.

O enfeitiçador era cego para amaldiçoar, mas agora que vê a Israel, o espírito de Deus vem sobre ele. O visionário agora diz que fala de olhos abertos e profetiza bênçãos para a Nação de Deus.

“Quão belas são as suas tendas, ó Jacó, as suas habitações, ó Israel! Como vales estendem-se, como jardins que margeiam rios, como aloés plantados pelo Senhor, como cedros junto às águas. Nm 24. 5,6

A doutrina de Balaão

A história poderia terminar neste ponto, mas infelizmente ela prossegue. Como dito mais acima, Deus tem os seus homens, o Diabo também tem os seus. Este acena com riquezas e poder para o time daquele, a fim de ganhar o seu passe. O ganancioso agiu movido por ganância e poder. Judas 11.

Balaão representa os líderes espirituais que se tornam mercenários, que passam a serem expositores de uma filosofia ilusória e mortal.

Lideres que tornam seus liderados filhos do inferno mais do que a eles. Líderes que se auto denominam com títulos pomposos, igualmente contraditórios Mt 23. 15

Balaque sabia que o feiticeiro era extremamente ganancioso, e o assediava fortemente. Por mais poderoso que o filho de Beor fosse, Deus era mais. O profeta não podia revogar o mandado do Altíssimo (Nm 23. 23).

Então ele arquitetou um plano para fazer Deus se afastar do povo, lançando tropeços (Ap 2. 14) e embaraços diante do povo, contando com isto que o mesmo pecasse, se tornando injusto, e assim o Magnifico deixaria de proteger-lo, abrindo possibilidades para que os Moabitas saíssem vitoriosos.

Este conjunto de ensinamentos do profeta ficou conhecido nas Escrituras como A Doutrina de Balaão. A doutrina incluía ainda misturar crentes com infiéis, forçando a todos a prostituição física e espiritual (Nm 31.16)

Como morreu Balaão

Esta última ação atraiu a ira de Deus sobre a Congregação de Israel, milhares foram punidos com a morte. O Senhor dos Exércitos deu uma ultima missão ao insigne Moisés, cobrar vingança dos israelitas contra os midianitas.

Uma elite do exercito foi destacada para sair à guerra contra o povo de Balaque. Vitória absoluta de Israel. Os midianitas foram mortos a espada. Balaão também.

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Balaão era prestigiado profeta, internacionalmente reconhecido e respeitado, mas a sua ganância foi pavimentando o caminho da sua destruição. Ele queria as riquezas, os prêmios, os louvores.

Foi desmoralizado e retratado nas Sagradas Escrituras como um dos tantos adivinhos e profetas da desgraça (Nm 31. 16). De Balaão passou a ser um João Ninguém, quando muito é um José Qualquer! Quem está contra Deus não tem relevância alguma.

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Juraci Rocha

Juraci Rocha é o editor do site Filhos de Ezequiel. Os escritos de Juraci Rocha são informativos, envolventes, divertidos e desafiadores. É instrutivo ler seus estudos e conhecer seus pontos de vista práticos e profundos sobre o tecido da fé cristã.

Balaão, o profeta devorador e ganancioso

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