Astuto, dissimulado, traiçoeiro, articulado e muito ambicioso. Estamos a falar de Corá, um rico levita da família de Coate e que protagonizou um dos episódios mais inquietantes da Bíblia, A rebelião de Corá.

Corá era um homem de grande habilidade e influência. Segundo o historiador e escritor Flávio Josefo, Corá e seus seguidores eram muito respeitados pela grande riqueza que possuíam. 

O insidioso levita foi protagonista de um dos mais tristes episódios da Bíblia, que quase custou o desaparecimento total do povo hebreu.

O levita Corá, primo de 1º grau de Moisés e Aarão teve o privilégio de ver in loco as demonstrações espetaculares do poder e glória do Senhor.

Ele viu os hebreus na travessia do Mar Vermelho, vendo em seguida seus perseguidores sendo todos mortos com a refluência das águas.

A opinião de Flávio Josefo

Quanto à riqueza de Corá que Flávio Josefo coloca em destaque, temos duas explicações para a origem da sua riqueza. A primeira é que ao sair do Egito, os hebreus receberam dos egípcios bens e riquezas.

O texto de Êx 3. 21,22 dá a entender que seria uma espécie de rescisão de contrato de trabalho. Seria uma indenização pelos duros trabalhos forçados durante centenas de anos.

Deus deu uma disposição favorável da parte dos egípcios para com os hebreus. Êx 12. 35,36

Óbvio, que o zoiúdo e ambicioso Corá viu uma excelente oportunidade para amealhar riquezas e bens. Êx. 14 29-31 afirmam que os israelitas viram os egípcios mortos na praia.

É aceitável a especulação de que os hebreus saquearam os soldados mortos e assim ganharam armas, roupas e objetos.

Corá é daqueles caras aproveitadores, que busca facilidades estejam elas onde estiverem. Despojar defuntos ricamente paramentados é mamão com açúcar pra qualquer um, mais convidativo ainda para quem era extremamente ganancioso.

Supomos que Corá foi um dos soldados que foram à guerra contra os amalequitas. O êxito da batalha deve ter inflado seu orgulho e aumentado sua riqueza, visto que havia mais mortos para serem saqueados.

Após o envolvimento dos hebreus na adoração do bezerro de ouro, Moisés exigiu do povo uma decisão definitiva “Quem é pelo Senhor, junte-se a mim”. Em um lance estratégico e de puro oportunismo, Corá fingiu demonstrar zelo pelas coisas do Senhor e se posicionou ao lado de Moisés, sua ação foi seguida por todos os levitas. Êx 32. 26-28

Quem era o agente que controlava a Corá

rebelião de corá

Impossível contarmos a história de Corá sem que a liguemos com relatos da queda de Satanás. Lúcifer surge no relato da queda de Adão (Gn. 3) como um anjo revoltoso e caído.

Neste primeiro relato o Tentador surge lançando duvidas ao jovem casal Adão e Eva. Ele viu que poderia prosseguir, e usou a duvida para dar a sua cartada final, questionando a autoridade do Senhor.

A chegada da morte cessa por completo todos os planos imediatos e futuros.

O Adversário no Jardim do Éden argumentou que o casal não estava usufruindo de tudo o que lhes cabia, que Deus estava sonegando informações, Istoé; o casal deixava de viver plenamente.

O fato comum

Os fatos descritos no Livro de Gênesis, referente à rebelião de Satanás e depois a queda do homem, tanto quanto nos fatos que desencadearam a rebelião de Corá, deixam evidente que havia outro cenário de guerra.

A oposição a Deus é o fato comum nos episódios. Êx 16. 3,8 revela uma percepção de Moisés neste sentido. Corá era um fiel agente de Satanás.

Corá usou do mesmo estratagema, lançando suspeitas, sempre que possível questionando a autoridade de Moisés. A cada conflito do povo com Moisés, a morte no deserto é apresentada como um fato concreto, (Êx 14. 12; 16. 3,8; Nm 14. 2; 16. 13; 21. 5 e Dt 9. 28).

As previsões de Corá terminaram por se cumprir. Estas afirmativas trouxeram um resultado trágico. O povo selou o seu destino com as suas afirmativas de  “morrer no deserto”.

A evolução do plano de Corá

rebelião de corá
A punição de Corá e o apedrejamento de Moisés e Aarão. Afresco de Sandro Botticelli, na Capela Sistina

Se você analisar os versículos atentamente, notará que há uma evolução no plano de Corá. A cada oposição que fazia, ele se destacava cada vez mais. É possível que dissesse para si mesmo “Vai, que te espera o mundo, o céu, a glória!”

Vamos ver a passagem de Isaias 14. 13,14 “Eu subirei” “exaltarei o meu trono” “me assentarei” Esta passagem tem dupla referência, enquadrava o rei de Babilônia, como também faz referência a Lúcifer.

O texto reflete um nível de busca do poder absoluto. Do que vimos até agora até concluirmos nosso estudo, fica evidente que Corá queria sempre mais.

Corá era um operador de Satanás, fazia oposição a principio velada contra Moisés, depois abertamente para frustrar os propósitos de Deus.

As Sagradas Escrituras deixam evidente que a maldade e perversidade no mundo visível são influenciadas e lideradas por domínios e potestades sob a liderança de Lúcifer.

O objetivo é frustrar os planos de Deus com relação ao homem. Dn 10.12-13; Ef 6. 12; 2 Co. 4. 4

Interessante é que quem sempre falava em morte no deserto eram os revoltosos. O mesmo espírito que operava no coração de Faraó, que fazia com que ele rejeitasse deixar Israel partir do Egito era o mesmo que incentiva aos lideres de Israel para que se rebelasse contra Moisés.

De Faraó é dito que por 10 vezes ele endureceu o coração e outras 10 vezes Deus mesmo endureceu-lhe o coração. Também é dito que por 10 vezes o povo no deserto tentaram a Deus. Nm 14. 22

Causas da rebelião de Corá

Moisés sob orientação de Deus separa a Aarão e seus filhos para o sacerdócio. Corá, Datã e Abirão exerciam importantes cargos na congregação (Nm 16. 9,10). Mas a ganância e o orgulho os deixavam insatisfeitos. A posição de Moisés os incomodava.

Corá julgava que era mais capacitado ao posto do que Aarão, sendo ele descendente de Levi.

Datã e Abirão, associados de Corá na rebelião, ambicionava o posto de Moisés, julgando que por pertencerem a tribo de Rúbem, o primogênito de Jacó, tinha mais legitimidade para o cargo.

O trio queria colher para si e família vantagens políticas e financeiras.

A oposição de Corá durante certo tempo foi realizada em segredo, mas o movimento ganhou forças. O levita publicamente acusa Moisés de usurpar a autoridade e favorecer o irmão e sobrinhos em cargos estratégicos. Notou o método usado? Satanás age com o mesmo método. Ele é o grande acusador. (Ap 12. 10).

No Jardim do Éden, Lúcifer sutilmente sugeriu que Adão e Eva estavam privados de liberdade e independência. Gn 3. 1-5; Nm 16. 3-13.

Corá afirmava que as decisões de Moisés eram ditatoriais, que o povo não tinha liberdade de escolha. Acusações gravíssimas. Orgulho, ambição, exaltação e insubordinação ao líder são as causas da rebelião de Corá.

Não é coincidência que tenham sido as mesmas de Lúcifer. Leia 14. 13,14; Ez 28. 13-17

Moisés estava numa situação de grande risco, sua vida corria perigo. Mas ele não retrucou nem procurou defender sua posição. Limitou-se a lembrar a Corá que Deus já o havia honrado com um cargo importante, e que suas observações contra Aarão eram improcedentes.

No entanto, propôs deixar que o Senhor indicasse quem era o homem de sua escolha. Como a questão exigia uma resposta rápida, Moisés marcou para o dia seguinte para esclarecer a situação.

A contradição de Corá

O apostolo Judas escrevendo a Igreja Universal (não é a IURD, refiro-me a Igreja de todos os tempos), faz um alerta contra os falsos mestres. Judas resume os fatos havidos com Corá numa síntese brilhante.

O apóstolo deixa evidente que muitos dos fatos ocorridos na história do povo hebreu, havia um sujeito oculto, que estava deliberadamente usando agentes humanos para destruir ou embaraçar o povo eleito.

O escritor deixa evidente que quem se opõe a autoridade de lideres nomeados ou eleitos por Deus, faz oposição ao próprio Deus. É em Judas 1.11 que encontramos o termo “contradição de Corá”. Judas marca uma expressão de juízo sobre Caim, Balaão e Corá.

O apostolo Paulo está em sintonia com Judas quando alerta “Não se deixem enganar: de Deus não se zomba. Pois o que o homem semear, isso também colherá.” (Gl 6. 7). O homem é senhor de seus desejos e suas circunstâncias.

Deus respeita o livre arbítrio, porem, cada um é responsável por suas escolhas e será julgado conforme a justiça de Deus. O termo justiça quer dizer fazer julgamento baseado em virtude moral, praticar a justiça aplicando elementos de legalidade, igualdade e retidão.

Aplicar a justiça é a ação de julgar e atribuir a cada um o que lhe compete, segundo termos pré-estabelecidos e reconhecidos pela sociedade.

Então temos a segurança de que Deus julga com eficácia, sendo justo e reto em suas decisões (Jó 33. 14-17). 

O homem ímpio tem uma evolução natural que por fim o leva a queda definitiva. Vejamos os passos segundo Judas 1. 11

03 passos errados que provocam a destruição

Entraram pelo caminho de Caim. Abel e Caim fazem ofertas para o Senhor. A oferta de Abel foi aceita, a de Caim recusada.

Caim ficou extremamente irritado e se interpôs com Deus que lhe disse que a razão da recusa era sua conduta que não era aprovada. O Altíssimo o lembra que caso ele mudasse de sentimentos e fosse pelo caminho da retidão, sua oferta seria aceita.

Houve uma evolução, primeiro o conflito com Abel, o ódio acumulando com a recusa da oferta, o ressentimento contra o irmão e por fim o assassinato.

Caim tinha uma escolha, um caminho a percorrer, que logicamente seria limpar o coração de todo mal, se reconciliar com o irmão. Mas preferiu seguir o caminho de seu coração enganado.

O caminho de Balaão

Foram levados pelo engano do prêmio de Balaão. Balaão foi personagem poderoso, homem de grande inteligência. Balaão era residente na Mesopotâmia.

No texto sagrado compreende-se que ele tinha algum conhecimento de Deus, mas prestava-se a jogar feitiços e encantamentos, razão por que Balaque, rei de Moabe o mandara chamar para amaldiçoar os hebreus que saindo do Egito lambia a toda a terra, conquistando a todos os povos.

Balaão era um profeta de Deus, mas com a chegada da embaixada ele pensou que poderia negociar com Balaque e Deus ao mesmo tempo. Terminantemente Deus já havia dito que “o povo é abençoado”. A vontade do Altíssimo em relação a Israel estava manifestada.

Era o suficiente para Balaão compreender a vontade de Deus e despachar a embaixada. Propositalmente, ocultou esta informação da embaixada, e ainda acusou a Deus de arbitrário. Balaão seguiu o caminho de Caim. Estava de olho no prêmio que Balaque havia lhe prometido.

E pereceram na contradição de Corá. Uauuuu! Você viu que coisa? O homem ilustra seu próprio destino quando deixa de seguir os caminhos do Senhor.

Note que estamos falando aqui de homens que tinham contato com Deus, que sabiam dos seus desígnios, que conheciam a sua vontade.

Mas todos eles, a cada passo que dava selava seu destino. Eles tinham um caminho claro a seguir, mas optaram por construir sua própria estrada.

Os resultados da rebelião de Corá

Deus havia lhes reservado um galardão (Pv 11. 18; Fp 3. 14), mas eles preferiram o prêmio da injustiça e pereceram na contradição de Corá.

Olha, juro que, se pudesse dava um cascudo neste cabeçudo do Corá. O cara por causa de ambição e riquezas preferiu negar as suas convicções a respeito de Deus.

Finalizando, vamos ver os resultados da rebelião de Corá. Moisés tinha o respaldo de Deus, mas ele tinha de agir com prudência e urgência. O primeiro passo foi separar a congregação dos revoltosos.

Lembre-se que Salomão afirma que uma mosca morta faz inutilizar todo o perfume (Ec 10. 1). Se Moisés não agisse de imediato, as consequências seriam muito desastrosas para o povo. Nm 16. 23-26

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Corá, Datã e Abirão estavam líderes, mas não era de fato líderes. Pelo menos não na concepção de representantes de Deus. Em conseqüência, o trio revoltoso perdeu suas posições administrativas e por fim perderam a vida. Nm 16. 31-33;  At 1. 25

Um último esclarecimento. Corá morreu na oferta do incenso, ao passo que Datã e Abirão e os demais revoltosos foram tragados pela terra.

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Juraci Rocha

Juraci Rocha é o editor do site Filhos de Ezequiel. Os escritos de Juraci Rocha são informativos, envolventes, divertidos e desafiadores. É instrutivo ler seus estudos e conhecer seus pontos de vista práticos e profundos sobre o tecido da fé cristã.

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