A Teoria da Dissonância Cognitiva tem por grande expoente o psicólogo Leon Festinger.
Ela tem relação em como as pessoas tentam justificar suas ações e pensamentos para que eles coincidam com a imagem que elas possuem de si mesmas.
A dissonância cognitiva se dá quando há diferenças entre os saberes, as crenças e pensamentos de uma pessoa em relação às atitudes dela, gerando conflitos.
Logo, quando é necessário tomar uma decisão, a pessoa sofre, pois, aquilo que ela pensa não condiz com as atitudes que toma.
Alguns estudiosos apontam paradoxos nesta teoria, pois além da cognição ela também engloba aspectos emocionais que não foram completamente contemplados pelos estudos de Festinger.
Quanto mais significativos para a pessoa, mais sofrimento podem gerar esses conflitos entre as emoções, o cognitivo e as atitudes dissonantes.
A dissonância cognitiva é aplicada no meio educacional, em ações sociais, em inteligência artificial, em política, em psicoterapia etc.
Leon Festinger
Foi psicólogo e professor universitário americano, atuante na psicologia social, sendo orientado por Kurt Lewin. Festinger era filho de judeus russos, que foram viver nos EUA.
Também foi o responsável por desenvolver a teoria da dissonância cognitiva. Ph.D. na Universidade de Iowa, ele também atuou como professor nas Universidades de Michigan e de Minnesota.
Seu orientador, Kurt Lewin, estudava a complexa relação entre o sujeito e o meio em que ele se encontra inserido.
Durante a Grande Guerra ele trabalhou como psicólogo no Instituto Psicanalítico de Berlim.
Mais tarde, sendo judeu, Lewin se refugiaria nos EUA. Trabalhou em várias universidades, inclusive a de Iowa.
Também, ajudou a consolidar a cibernética, estudando a relação e comunicação entre homens, animais e máquinas.
Começo dos estudo da teoria
No livro que escreveu com colegas em 1956,When the Prophecy fails, Festinger descreve um dos caso que eles observaram: eles leram uma notícia no jornal que dizia que o mundo ia acabar e que muitos estavam se juntando a uma espécie de seita.
Havia a informação, que os participantes estariam se preparando para serem resgatados por um OVNI de um suposto Planeta Clarion.
Logo, a equipe formada por Festinger, resolveu estudar como seriam as atitudes e pensamentos destes participantes, quando a profecia se revelasse falsa.
Entretanto, quandoa profecia não se realizou, os adeptos da seita – que tinham largado seus trabalhos, bens materiais, amigos e familiares –procuraram explicações do porquê de a profecia não ter se cumprido.
A líder afirmou que a positividade do grupo tinha influenciado de tal forma os deuses intergalácticos que a Terra teria sido poupada.
Com esta observação, Festinger e seus colegas foram capazes de começar a elaborar a teoria da dissonância cognitiva. Eles se basearam na diferença entre o que as pessoas acreditavam com o que era real e factível.
Âmbito cognitivo
Os comportamentos e as crenças pessoais podem gerar atitudes incoerentes com a realidade.
É uma incoerência no âmbito cognitivo, onde as pessoas, muitas vezes, não percebem que estão fazendo escolhas desarmônicas, pois colocam justificativas válidas para as situações, que ajudam a se convencer de que estas ações são corretas.
Exemplificando:
- Para burlar uma dieta necessária à saúde, alguém diz para si mesmo que a academia é muito cara, porém gasta o mesmo valor da mensalidade em chocolates e frituras, prometendo economizar para começar no próximo mês e malhar ainda mais pra compensar pelos doces.
- Até mesmo para assistir aquele filme que tanto quero, mas não tenho companhia para ir ao cinema, ou certeza de que vou gostar da história, acabo falando para mim mesmo que, se eu assistir este único filme pirateado, isto não fará diferença nenhuma pois as produtoras e distribuidoras de filmes arrecadam todos as anos milhões. Porém eu critico quem consome jogos pirateados, quem paga propina para não levar multa em fila dupla, avança o sinal, fura fila etc. Sempre estou dando a mesma desculpa para não assinar um serviço de streaming ou pagar a entrada do cinema.
Nós não nos retemos nesses assuntos, apenas nos convencemos de que são as melhores decisões a se tomar, ainda que a realidade seja completamente oposta.
Então, a teoria da dissonância cognitiva trata também dos pontos cegos, pois de forma intencional, a pessoa escolhe ver apenas o que é bom para seu próprio proveito.
Entrementes, evita por meio de mentiras, atitudes em desarmonia com a sua moral, coisas que podem ser questionadas, colocando seu julgamento, credibilidade em risco.
Paradigma da Recompensa Insuficiente
Há um ponto muito interessante a se observar nestes estudos.
Festinger e seus colegas observaram que as pessoas que abriam mão de mais coisas, da sua integridade, ou quanto mais difícil e custosa fosse a decisão, mais elas ficavam presas nas dissonâncias cognitivas.
Experimentos para confirmar o Paradigma da Recompensa Insuficiente endossaram a teoria.
Os alunos que receberam vinte dólares para contar uma mentira deixaram essas ideias de lado rapidamente.
Enquanto isso, os que receberam apenas um dólar se sentiram lesados e tentaram justificar cada vez mais a mentira contada, pois perceberam que venderam sua consciência por um preço ínfimo.
Autoimagem e Paradoxos
A teoria da dissonância cognitiva tem muito a ver com a nossa autoimagem, em como nos enxergamos.
No geral, temos uma imagem positiva, nos levando a pensar que somos os melhores.
Por isso, quando erramos – como qualquer ser humano – tentamos nos justificar para não arcar com as consequências dos nosso atos, coisas que arranhem essa imagem que construímos a nosso respeito.
Então, a teoria da dissonância cognitiva seria como um duplo caráter: diz uma coisa, mas pode fazer outra completamente oposta para não sair de bobo, imoral, incompetente, impulsivo etc.
Transferindo responsabilidade
Transferimos a responsabilidade para uma afirmativa, onde somos perfeitos e fatores externos nos fazem escolher daquela forma.
- Desta forma, eu não esqueci que minha mãe não estaria em casa para fazer o jantar, pois está estudando para uma prova. Foi ela quem não deixou nada pronto, então sou obrigado a comer pizza pela terceira vez seguida na semana, em vez de separar um tempo para cozinhar algo mais nutritivo.
Mas Carol Travis e Elliot Aronson dizem que se tivéssemos que avaliar cada decisão passaríamos a não dormir.
Entretanto, sofreríamos constantemente com pensamentos sobre desdobramentos das mais variadas atitudes tomadas, inclusive daquelas que não tomamos e como elas poderiam modificar as nossas vidas.
Também prolongaria os sentimentos de vergonha, raiva e culpa por algo que já foi até resolvido.
É possível saber mais no livro Mistakes Were Made (But Not by Me): Why We Justify Foolish Beliefs, Bad Decisions, and Hurtful Acts.
Quando procuramossempre esconder nossas dificuldades, isso pode se tornar perigoso, pois deixamos de aprender com nossos erros.
Se não admitimos, então não erramos. Então, é necessário ter muito cuidado para não começar a viver em um mundo paralelo, se tornando algo até patológico.
Os estudiosos dizem que precisamos de pessoas que, por vezes, nos ajudem a sair dessas justificativas que criamospara encarar as consequências de nossos comportamentos.
A teoria também se dedica a explicar comportamentos estranhos que possamos ter, ao ressignificar ações de nosso passado através das nossas memórias.
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Como diminuir as dissonâncias?
Para diminuir o conflito que essa dissonância causa, existem estudos que apontam 3 caminhos:
- Substituir alguns pensamentos e atitudes que estejam na dissonância intelectiva.
- Adquirir atitudes novas e pensamentos que não vão amplificar a dissonância.
- Esquecer ou dar menos importância para as atitudes e pensamentos que o envolvem na dissonância.
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